Sobre Deus e o mal
Visto que “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28), num nível metafísico, é absolutamente impossível fazer algo em independência de Deus. Sem Ele, uma pessoa não pode nem mesmo pensar ou se mover. Como, então, o mal pode ser tramado e cometido em total independência dEle? Como alguém pode ao menos pensar o mal, aparte da vontade e do propósito de Deus? Ao invés de tentar “proteger” Deus de algo que Ele não precisa ser protegido, deveríamos reconhecer alegremente com a Bíblia que Deus decretou ativamente o mal, e então, tratar com o assunto sobre esta base.
O censo de Israel realizado por Davi fornece um exemplo do mal decretado por Deus e realizado através dos agentes secundários:
E a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá (2 Samuel 24:1).
Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel (1 Crônicas 21:1).
Os dois versos referem-se ao mesmo incidente. Não há contradição se a visão que está aqui sendo apresentada é verdadeira. Deus decretou que Davi pecaria fazendo o censo, mas Ele fez com que Satanás realizasse a tentação como um agente secundário. [3] Mais tarde, Deus puniu Davi por cometer este pecado:
E pesou o coração de Davi, depois de haver numerado o povo; e disse Davi ao SENHOR: Muito pequei no que fiz; porém agora ó SENHOR, peço-te que perdoes a iniqüidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente. Levantando-se, pois, Davi pela manhã, veio a palavra do SENHOR ao profeta Gade, vidente de Davi, dizendo: Vai, e dize a Davi: Assim diz o SENHOR: Três coisas te ofereço; escolhe uma delas, para que ta faça. Foi, pois, Gade a Davi, e fez-lho saber; e disse-lhe: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra; ou que por três meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três dias haja peste na tua terra? Delibera agora, e vê que resposta hei de dar ao que me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu (2 Samuel 24:10-14).
Embora o mal do qual estamos falando seja deveras negativo, o fim último, que é a glória de Deus, é positivo. Deus é o único que possui dignidade intrínseca, e se Ele decide que a existência do mal irá servir, no final das contas, para glorificá-lo, então, o decreto é, por definição, bom e justificável. Alguém que pensa que a glória de Deus não é digna da morte e sofrimento de bilhões de pessoas tem uma opinião muito alta de si mesmo e da humanidade. A dignidade de uma pessoa pode ser derivada somente do Seu criador ou lhe dada por Ele, e à luz do propósito para o qual o Criador lhe fez. Visto que Deus é o único padrão de medida, se Ele pensa que algo é justificável, então, este é, por definição, justificável. Os cristãos não deveriam ter problemas em afirmar tudo isto, e aqueles que acham difícil aceitar o que a Escritura explicitamente ensina, deveriam reconsiderar seu compromisso espiritual, para ver se eles estão verdadeiramente na fé.
Vicent Cheung
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