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As “Línguas Estranhas” nos comentários de Marcos Granconato

FALA DE PAPAGAIO

Dentro de cada comunidade pentecostal específica, as línguas faladas pelos membros são sempre parecidas, com uma recorrência de sons comum a todos. Há sempre, na verdade, uma grande repetição de combinações vocálicas e consonantais, indicando uma padronização. Isso mostra que as pessoas que falam “línguas estranhas” seguem inconscientemente um padrão geral fornecido pela sua comunidade e aprendido por meio da convivência.

Mesmo repetindo basicamente os mesmos sons vez após vez — sons semelhantes aos produzidos por quase todos os demais membros da mesma igreja — os pentecostais acreditam que, a cada nova experiência com línguas, dizem coisas novas e diferentes das faladas pelos demais.

 

 

NOVE MILHÕES DE LÍNGUAS ESTRANHAS

Análises modernas da glossolalia religiosa feitas por linguistas com o auxílio de tecnologia computadorizada descobriram que, na cadeia de sons emitidos pelos que exercitam o suposto dom, é impossível fazer qualquer segmentação que aponte para a existência de palavras específicas. Também não há qualquer indício de sintaxe. Ademais, a transcrição dessas falas revelou que nelas não existe nenhum fonema estranho à língua materna do falante.

Tratam-se, assim, apenas de produções vocais fundamentadas em próprio sistema fônico de quem fala, com a utilização estrita de alguns sons que se repetem excessivamente durante a experiência de “línguas”, numa sequência variável e com características de declamações ou recitações.

Nesse último aspecto, nunca há, por exemplo, entonações interrogativas, interrupções para se pensar no que vai dizer ou retomadas para correção — fatores presentes na fala de qualquer idioma verdadeiro. Aliás, é impossível que a experiência pentecostal dominante abranja línguas verdadeiras, pois há muito mais variações glossolálicas do que línguas reais.

De fato, existem mais de nove milhões de glossolalistas (dado do início da década de 80), cada um praticando uma ou mais formas diferentes de “línguas estranhas”, enquanto só existem três mil línguas verdadeiras no mundo.

 

 

 

LÍNGUAS ESTRANHAS NA IGREJA CATÓLICA ANTIGA E MEDIEVAL

A ideia tão comum entre os pentecostais de que o falar em línguas é uma prática que foi resgatada por eles no início do século XX, inaugurando uma nova fase de vigor espiritual para a igreja, desconsidera a realidade histórica de que a glossolalia sempre esteve presente em formas deturpadas de cristianismo desde os seus primórdios.

Ao tempo da igreja antiga, o herege Montano (157-212) e seus seguidores alegavam falar em línguas. O corrompido catolicismo medieval também fornece diversos exemplos de personagens tidos como “santos” que afirmavam praticar a glossolalia. Alguns deles são: Hildegard von Bigen (1098 – 1179), São Domingos (1170 – 1221), Santo Antônio de Pádua (1195 – 1231), São Vicente Ferrer (1350 – 1419), São Francisco Xavier (1506 – 1552), São Louis Bertrand (1526 – 1581), São João D’Ávila (1500 – 1569), Santa Teresa D’Ávila (1515 – 1582), São João da Cruz (1542 – 1591) e Santo Inácio Loyola (1491 – 1556).

O fato desses nomes estarem ligados ao romanismo tão tosco como foi o vivenciado na Idade Média, deveria ser levado em conta quando se diz que o falar em línguas marca uma época de maior vitalidade espiritual na igreja.

 

 

 

 

LÍNGUAS ESTRANHAS NAS RELIGIÕES PAGÃS

A glossolalia não está associada apenas ao cristianismo em sua vertente pentecostal. Registros históricos informam que, no Egito, ao tempo de Ramsés XI (1100 – 1070 a.c), um jovem adorador de Amon, após ter oferecido sacrifícios ao seu deus, foi por ele possuído e começou a falar uma língua estranha. Séculos depois, Platão afirmou na sua obra, “Fédon”, que nos seus dias várias pessoas praticavam a fala extática sob possessão ou inspiração divina. No século 1 a.C., Virgílio disse na “Eneida” que as pitonisas sibilinas da Ilha de Delfos falavam línguas estranhas como resultado da sua união com o deus Apolo. Em transe, elas diziam coisas sem nexo, palavras confusas e enigmáticas, sem nenhum sentido. Fenômenos semelhantes ocorriam no culto egípcio a Osíris, no mitraísmo dos persas e nos Mistérios Eleusianos.
Em tempos mais recentes, a glossolalia pode ser encontrada no catolicismo da Renovação Carismática, no espiritismo, onde o fenômeno é chamado de xenoglossia ou mediunidade poliglota (havendo também alegações de se falar línguas extraterrestres), nos rituais indígenas, no xangô, no candomblé e no xamanismo, onde as línguas faladas são reproduções de sons emitidos por animais.
Esses dados deveriam promover uma cautela maior por parte dos pentecostais e não uma postura tão aberta às línguas como se verifica nesse meio. Também deveriam servir como incentivo para a revisão de seu conceito de línguas como evidência de alta condição espiritual.

 

A GLOSSOLALIA E O CÉREBRO DE QUEM FALA

O fato de que as línguas faladas pelos pentecostais na atualidade são falsas, além de receber o apoio da exegese bíblica, passou também a contar com provas científicas. Isso porque em 2006, uma equipe de cientistas da Universidade da Pensilvânia realizou experimentos num grupo de pentecostais enquanto eles praticavam a glossolalia. Usando técnicas específicas de medicina nuclear, os cientistas avaliaram o fluxo sanguíneo em determinadas porções do cérebro dessas pessoas e descobriram que as regiões associadas à linguagem não eram ativadas durante o exercício do “dom”, mostrando que os pentecostais não estavam falando língua alguma.

Por outro lado, a análise revelou que porções do cérebro fortemente associadas ao aprendizado inconsciente e à memorização implícita (regiões ricas em “neurônios espelho”) ficavam mais ativas durante o “falar em línguas”, deixando claro que os pentecostais estavam apenas reproduzindo ou imitando sons que ouviram em suas igrejas ou em outras reuniões.

A equipe de cientistas verificou ainda que durante a experiência de “línguas estranhas”, a parte do cérebro que coordena e integra atividades conscientes e inconscientes (o tálamo) entra em atividade mais intensa. Em meio a isso tudo, a pessoa “sente” que o “dom” está “fluindo naturalmente”, tem uma sensação agradável e experimenta certo alívio do estresse.

Todas essas conclusões tiraram o debate sobre línguas do campo da opinião pessoal, revelando de forma objetiva que a glossolalia moderna não tem nada de sobrenatural, sendo algo muito diferente do que os cristãos experimentaram em Atos 2 e nas igrejas do século 1.

 

 

SÍLABAS DA LÍNGUA PÁTRIA

A análise linguística da glossolalia pentecostal mostra a construção de uma língua a partir de um conjunto limitado de sons pertencentes ao universo idiomático do falante. No contexto brasileiro, por exemplo, esse conjunto fica estrito aos sons utilizados para falar a língua portuguesa.

O falante, porém, não usa todos os sons do português durante a prática glossolálica, mas um número muito menor. De fato, a média de segmentos utilizados é de nove sons consonantais e apenas seis variações vogais. No caso de pessoas de baixa instrução, cujo vocabulário é pequeno, as variações glossolálicas são ainda menores.

A predominância e repetição de alguns dos sons que compõem os pequenos conjuntos sonoros usados pelos que falam em “línguas” depende claramente da preferência do falante. Sequências ou sílabas que tenham conotação grosseira ou chula são claramente evitadas.

IGREJA EVANGÉLICA PENTECOSTAL É O PAPISMO PIORADO

“Ora, o PENTECOSTALISMO também não deixou de fora os principais elementos desse mal. Com efeito, além de trazer novamente para a igreja de Cristo o velho paganismo combatido pelos pais apostólicos do século 2, o movimento pentecostal trouxe também para a igreja evangélica o velho papismo combatido pelos reformadores do século 16. A diferença é que o papismo pentecostal é um papismo piorado.

De fato, se no romanismo foi acolhida a figura de um papa apenas, no movimento pentecostal ocorreu a diabólica proliferação de um exército de pequenos papas locais, todos reivindicando autoridade divina e infalibilidade absoluta sob os títulos de bispo, apóstolo, profeta ou patriarca.

Com incrível ousadia, todas essas figuras alegam que Deus lhes fala diretamente e, à semelhança dos pontífices medievais, não aceitam que suas opiniões ou condutas sejam questionadas por ninguém e em nenhum grau. Também à semelhança dos papas renascentistas, esses facínoras exploram a boa-fé do povo e juntam tesouros para si, vendendo quinquilharias que dizem ser santas e dotadas de poder. Na verdade, isso acontece hoje numa escala tão grande que é fácil concluir que os papas medievais, em termos de engano e estelionato, teriam muito que aprender com os pequenos papas da atualidade que reinam soberanos nas igrejas pentecostais”. 
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Pr. Marcos Granconato

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