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Confissões de um pastor

MINHA VIDA ERA UMA MENTIRA - confissões de um pastor

CERTO DOMINGO, DURANTE o culto, lá estava eu de pé, diante da igreja, cheio de medo. Receava que as pessoas ali me considerassem um fracasso como pastor e se decepcionassem comigo. Mas eu finalmente estava pronto para contar a verdade, e tinha certeza de que Deus queria que eu fizesse aquilo.
Meu problema não tinha nada a ver com amante ou com roubo de dinheiro da igreja. Para falar a verdade, meus pecados eram até pequenos, bobagens do dia-a-dia. Só não eram evidentes. Quem via dos bancos da igreja achava que eu era o modelo do pastor perfeito — e eu me esforçara muito para manter aquela imagem. Representava bem esse papel. Essa, aliás, era a questão.

Vou contar a história de um impostor desmascarado. Contudo, a história vai além daquela manhã de domingo. Ela fala de como um discípulo relativamente bem intencionado de Jesus é capaz de passar a vida inteira mantendo uma fachada irretocável, mas fracassar de maneira absurda em seu dever: o de ser, antes de tudo, a pessoa que Deus criou com tanto amor.

Talvez você nem goste mais de mim quando terminar de ler este texto. Mas, considerando a oportunidade que Deus terá de usar minha história para ajudar as pessoas a tirar suas máscaras e revelar-se por inteiro, me disponho a correr o risco.

POR QUE VIREI ATOR DESSA HISTÓRIA
Desde que me entendo por gente, participo desse jogo. Pode ser que você também tenha participado. Eu tentava sempre falar a coisa certa na hora certa para a pessoa certa. Quando as pessoas ou as circunstâncias mudavam, eu mudava junto.

Quando criança, esforçava-me tanto quanto podia para agradar meus pais. Na escola, fazia o máximo possível para impressionar meus professores. Não que fosse algo tão ruim, mas agora, olhando para trás, posso ver que aquilo tudo era apenas ensaio para o que viria anos depois.
Na adolescência, fiz quase tudo para ter a certeza de que meus colegas me aceitariam. Freqüentei baladas, xinguei, menti, enganei e até roubei. Achava que agir daquela maneira me tornaria uma pessoa mais popular. Se fiz muitas amizades naquela época? Bem, isso é questionável. Contudo, a longo prazo, o custo pessoal daquele estilo de vida foi bastante evidente. Quando entrei na faculdade, já desempenhava tantos personagens na vida que comecei a perder a noção de minha personalidade verdadeira. Para ser sincero, comecei até a duvidar da existência de um “eu” real.

Aos dezenove anos, tornei-me cristão. E tudo o que Jesus mu- dou em minha vida, o fez de forma miraculosa. Fez uma faxina na casa. Acontece que, num cantinho aqui, atrás de uma porta trancada acolá, eu continuava achando que valia a pena viver de fachada. A diferença é que agora a fachada era nova. Espiritual. O joguinho ainda era o mesmo, só que eu havia mudado de fase.

Poucos anos depois, fui ordenado pastor. Em tese, tornar-me um “homem de respeito” (seja isso lá o que for) deveria ter mexido comigo por dentro e ajudado a colocar um ponto final naquela farsa. Em vez disso, virei um profissional do púlpito. Os membros de minha igreja eram a platéia para minhas melhores performances. Engavana muitos deles. Mas não enganava a mim mesmo, nem a Deus.

Entrei no seminário algum tempo depois de minha ordenação. Um de meus professores ensinou-me muitos princípios inestimáveis para o exercício do ministério. De fato, até hoje coloco em prática a maioria das coisas que aprendi com ele, e sou eternamente grato por sua amizade e sua liderança. No entanto, agora sei que uma das coisas que aquele professor compartilhou comigo não só era errada, mas extremamente perigosa. Ele a chamava de a “mística do pastor”, e ensinou a todos nós, seminaristas, que deveríamos guardá-la, custasse o que custasse. “Todo mundo acha que quer um pastor normal, igual a qualquer outra pessoa”, ele costumava falar aos alunos, “mas não é bem assim. O que as pessoas querem mesmo é que sejamos super-homens e estejamos acima da média. Os membros das igrejas preferem acreditar que o casamento do pastor está sempre às mil maravilhas, que ele possui grande fé e vive praticamente sem pecado”. Assimilei cada palavra, guardando aquele conselho dentro de mim.

Toda semana, meu professor voltava a fazer aqueles alertas sobre a mística do pastor: “Mantenha-se em guarda o tempo todo”, dizia. “Não permita que as pessoas conheçam, de fato, quem você é. Assuma sempre o personagem, seja na maneira de vestir, seja na maneira de falar. Agora, como pastor, não deve deixar que tenham acesso a sua vida. Caso contrário, certamente se arrependerá”. Aquilo pareceu lógico para mim. Era evidente que ele havia passado por problemas muito graves em seu ministério, saíra muito machucado e queria nos ajudar a evitar os mesmos sofrimentos. Na época, eu tinha certeza — e até hoje acredito nisso — de que a intenção daquele professor era a melhor possível.

Assim, guardei tudo o que ele dissera em meu coração e continuei aperfeiçoando meu personagem, o “bom pastor”. Abria um sorriso imenso para os membros da igreja, usava as duas mãos para cumprimentar quem passasse por mim e terminava todo tipo de conversa ou bate-papo com aquela frase típica: “Deus abençoe você”. No entanto, em alguma parte do caminho, esquecera que Deus não me chamara para ser igual a um pastor, e sim para ser igual a Cristo.

Quando tomei consciência disso, meus conflitos espirituais começaram. Eu não cometia nenhum pecado grande ou grosseiro demais — não, pelo menos, daquele tipo que destrói a carreira de um pastor. Minhas motivações também não eram tão más. Eu amava Jesus e o povo de Deus.

Desejava, do fundo do coração, fazer diferença neste mundo, em nome de Deus. Dedicava-me de corpo e alma ao ministério, trabalhando horas a fio, suportando reuniões cansativas, aulas intermináveis, gente temperamental e resolvendo velhos conflitos bem típicos de igreja — tudo em nome de Jesus.

Passados alguns anos, fiquei bom mesmo nesse negócio de ser pastor. As palavras fluíam-me da boca durante os sermões. Aprendi o que devia e o que não devia dizer. Fazia funerais com a mesma facilidade com que celebrava casamentos. Pregava com a maior naturalidade, e minhas habilidades como conselheiro foram aprimoradas. A maioria das pessoas dizia que eu tinha futuro brilhante como pastor, e logo estaria à frente de uma igreja muito maior. Por fora, tudo estava muito bem. Só que Deus não olha para o exterior.

A PRIMEIRA DE MUITAS CONFISSÕES
Determinado domingo, depois de mais uma semana representando muito bem meu papel, preparei-me para pregar a Palavra transformadora de Deus. Quando me aproximei do púlpito, porém, fui surpreendido com a revelação de uma verdade: eu não havia orado. Não, nem naquele dia nem no dia anterior. Aliás, até onde lembrava, não havia orado durante aquela semana inteira. E ainda me considerava um pastor! Foi então que ficou claro para mim: eu havia me tornado um pastor em tempo integral, mas um discípulo de Cristo de meio expediente. Para quem olhava de fora, eu representava muito bem. “Deus abençoe você”, dizia, junto com a promessa de orar pela pessoa. Mas, via de regra, era tudo mentira.

Ao subir no púlpito para pregar naquela manhã, admiti a mim mesmo que, antes de qualquer outra coisa, não era um pastor, e sim um sujeito comum, medroso, inseguro, cuja vida fora transformada por Jesus. E se, sendo como eu era, Jesus con- seguia me amar tanto (e eu tinha certeza de que ele amava), então para que tentar ser outra pessoa? Lutei muito para pregar o sermão naquela manhã. As palavras saíam forçadas. A mensagem foi superficial, artificial, rasa. Mesmo assim, levei-a até o fim. Dentro do carro, no caminho de volta para casa, senti vergonha daquele teatro que acabara de protagonizar tão bem. Ao mesmo tempo, tinha esperança de que estava aprendendo a ser eu mesmo.
Aquela semana inteira foi torturante. Orei como não orava havia meses: “Deus, e se eu contar às pessoas quem realmente sou? Como será quando perceberem que morro de medo? E se me rejeitarem? Se falarem mal de mim? Se me dispensarem do cargo de pastor?”. Engoli em seco.
Então, resolvi ir mais além: “É isso que o Senhor quer que eu faça?”. Pensei que sentiria logo uma espécie de convicção divina, mas isso não aconteceu. Continuei sem certeza do que fazer. Queria muito sentir que era Deus, e não minha consciência pesada, quem estava dirigindo aqueles pensamentos.

Chegou o domingo seguinte, e subi naquele púlpito sem nenhum preparativo — nem sequer um esboço básico. A única preparação era a do meu coração. Minha garganta estava seca, meu nervosismo era indescritível. Lá estava eu, encarando duzentas pessoas, todas bastante comprometidas com aquela igreja. Elas, por sua vez, também olhavam para mim, sem nada dizer. Silêncio total. Por fim, comecei a falar: “Meu relacionamento com Deus não é como deveria ser”. Minha voz tremia a cada sílaba. Ninguém se mexia. Tomei coragem e continuei. “Já confessei a Deus, mas agora vou confessar a vocês: sou um pastor em tempo integral, mas um discípulo de Jesus apenas de meio expediente”.
Era possível ouvir o vôo de uma mosca, tal era o silêncio naquele lugar. Continuei falando, abrindo meu coração para que todos pudessem me ver por dentro. A mensagem daquele domingo não poderia ser mais direta. Nada de piadinhas, citações ou poesias. Não tinha frases de efeito, nem era adornada de tópicos com títulos que rimavam, tipo “ação, reação e oração”. Mas cada palavra
era a mais pura verdade.�Não escondi nada. Era o maior risco que já assumira em público. Mas também era meu primeiro ser- mão autêntico. Já havia pregado muitas vezes, mas pela primeira vez revelava minha personalidade verdadeira. E, enquanto eu falava, alguma coisa começou a acontecer. Algo novo para mim: Deus se revelou.
É difícil descrever a realidade de sua presença, mas é ainda mais difícil esquecer. Algumas pessoas soluçavam baixinho, sentadas no banco da igreja. Outras choravam sem constrangimento — nem tanto por minha causa, mas por causa dos próprios pecados. Antes que minha confissão chegasse ao fim, muita gente aproximou-se do altar para se juntar a mim numa oração de arrependimento.

Em meio a lágrimas e confissões, a paz de Deus substituiu o medo que havia em mim. A convicção divina afugentou todas as minhas dúvidas. O poder de Cristo me fortaleceu por dentro. Naquele momento, Jesus tornou-se tão real quanto sempre fora, mas eu ainda não percebera. O Salvador estava comigo... e eu sabia que ele estava satisfeito. “Bom trabalho”, ouvi. Ou melhor, senti.

Foi a partir daí que tudo mudou. Passei a ser um discípulo em tempo integral — e que, por acaso, também era pastor. O fingimento chegara ao fim. Nada de posar de santo. Nada de joguinhos. Daquele dia em diante, teria de ser eu mesmo. Nada mais.

SALTO DE FÉ
Por que você se interessaria por um livro que fala das confissões de um pastor? Talvez nem se interesse mesmo. Mas vou insistir: se você permitir, Deus pode fazer algo inesperado em sua vida. Como fez na minha.

Seja honesto consigo: está cansado de fingir? De viver agradando os outros? De fazer parte de um grande teatro? De fazer o possível para encobrir aquilo que realmente é? Chega de se esconder. Torne-se a pessoa que Deus quer que você seja. A única platéia da qual precisa é o Senhor.

Acha que estou sugerindo a você que confesse as coisas ruins de sua vida diante da igreja toda? Nada disso. Em alguns casos, pode ser até que Deus queira isso, mas no que diz respeito à sua vida pessoal, é mais prudente falar sobre esses pecados a um grupo menor e mais confiável, ou mesmo procurar apenas um amigo que possa ajudar com uma palavra sábia. Mas uma coisa é certa: bancar o fugitivo diante da verdade nunca proporcionará a paz que você deseja.
O problema é o seguinte: é mais fácil continuar sendo o que se é — acomodar-se e viver na mediocridade da autocomplacência. É muito menos arriscado. Basta continuar representando. É isso o que a maioria das pessoas faz. Para ser sincero, esse tipo de falsidade ainda costuma ser recompensado. Ninguém reclama. Não é preciso passar nenhum constrangimento. Com o tempo, você se enquadra, embora saiba que tenha sido criado para algo bem diferente.
Mas se já se cansou de tantos relacionamentos rasos e vazios — se anseia por comunhão profunda e sincera —, então está na hora de assumir o risco. Talvez precise enfrentar julgamentos cruéis, incompreensão, críticas, mas pense na recompensa. Imagine-se vivendo na liberdade e na santidade de Deus.
Sonhe com o fim da escravidão imposta pela culpa, pelo medo e pelas dúvidas. Veja a si mesmo mais próximo de Deus (e das pessoas com quem convive) do que jamais esteve antes. A escolha é sua: a vida como sempre foi ou como pode passar a ser.
Meu objetivo é viver da maneira mais autêntica, transparente e vulnerável possível a um discípulo de Cristo. E vou dizer o que descobri: há gente que não gosta de mim por causa disso. Mas, se eu fosse diferente, não aconteceria a mesma coisa?
Além disso, há aqueles que não apenas gostam de mim do jeito que sou, mas também me amam de verdade. Esses não amam aquela fachada da qual eu vivia no passado; amam o verdadeiro “eu” que Deus criou. E eu também os amo.
Quanto mais honesto era em minha relação com o Senhor, comigo mesmo e com o povo de Deus, mais ricos e profundos esses relacionamentos se tornavam. Antes, eu sempre receava que alguém tirasse minha máscara. Vivia o medo constante de ser exposto. Mas isso acabou. Superei esse medo porque aproveitei a oportunidade que tive. E é o que desejo continuar fazendo: a opção pela obediência e pela verdade.
Este livro fala o tempo todo de riscos. É provável que, a cada página folheada, você passe por alguma situação de desconforto. Esta estrada de sinceridade foi a trilha que escolhi para seguir. Não tenho medo de arriscar. E você também não deveria ter. Para falar a verdade, é impossível ter medo de arriscar e agradar a Deus ao mesmo tempo. A Bíblia diz: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6).

Deus pode realizar coisas grandes, mesmo quando nossa fé é pequena. Oro para que minhas confissões possam ajudá-lo a dar o primeiro passo na direção de uma vida livre de medos, segredos, dúvidas e inseguranças. Uma vida de sinceridade. Uma vida que agrada a Deus. A vida para a qual ele criou você.

- Groeschel Craig

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