“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” – Filipenses 1.6
No carnaval desse ano tivemos o nosso tão esperado retiro. Não que exista algo de especial, mais espiritual ou mágico em retirar-se do meio da sociedade, mas é um alívio enorme sair da muvuca do carnaval, ir para algum lugar remoto e, em união com demais irmãos, buscarmos ao Criador.
O tema do retiro de minha igreja foi “casa de Deus”, e todas as pregações, meditações e atividades foram voltadas para essa realidade – de que o Deus vivo mora em nós. Foi pregado acerca de qual deve ser nosso fundamento, nosso alicerce, e de como conhecer ao Criador.
Como de praxe, uma semana depois fizemos o nosso “encontro pós-retiro”. A ideia desse encontro é de cultuarmos a Deus, revermos os irmãos e, em comunhão, partilharmos mais experiências sobre os reflexos práticos que a mensagem pregada tem gerado em nossas vidas.
Nesse culto eu pude trazer a mensagem final, a qual desejo compartilhar nesse texto. Tem por base o versículo citado acima, onde Paulo fala aos irmãos da igreja de Filipos sobre a salvação.
Em seu contexto, o versículo deixa claro que o Criador, aquele que começou e nós uma obra – e boa, por sinal – ainda há de terminá-la, completá-la. Paulo aqui está falando de como se dá a salvação na vida de alguém.
O entendimento acerca da salvação pode ser dividido, de maneira mais didática, em três partes que compõem um todo: justificação, santificação e glorificação. Na justificação somos declarados justos perante o Pai, mediante o sangue de Cristo, e nossos pecados são perdoados – passados, presentes e futuros. Já na santificação, processo esse que vivemos hoje em dia, somos constantemente lapidados e transformados pelo Eterno, através da operação de Seu Santo Espírito, para que sejamos mais parecidos com Ele, e que vivamos afastados do pecado. Por fim, a glorificação, quando o Pai nos levar para o Lar.
Na justificação somos libertos da culpa pelo pecado. Na santificação, da influência dele em nossas vidas. E finalmente, na glorificação, de sua presença.
É com esse entendimento em mente que desejo partilhar três itens, no mínimo, sobre o fato de que ainda estamos em obras.
Em primeiro lugar, como estamos em obras, existem cômodos que precisam sair da planta e serem construídos. Quando olhamos para nosso interior, certamente veremos qualidades e defeitos. Entretanto, sentiremos falta de alguns itens também – e é sobre esses que agora desejo comentar.
Ao observar a carta do apóstolo Paulo à igreja da Galácia, logo no capítulo 5, veremos o conhecido texto que trata acerca do fruto do Espírito. O apóstolo dos gentios escreve dizendo:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.” Gl 5.22
Cada “item” citado por Paulo nesse versículo é um “gomo” do fruto do Espírito, e no contexto desse texto simboliza um cômodo do lar que somos nós. Há a necessidade de vivermos sempre fazendo uma “auto análise” de como estamos, de como andamos, e de como nos portamos perante as demais pessoas – membros da igreja ou não (1Co 11.28).
Assim, precisamos compreender que construir esses novos cômodos – desenvolver o fruto do Espírito – é uma necessidade urgente para todo aquele que se diz cristão. Primeiro, pois essa é uma confirmação de sua eleição e efetiva conversão (Lc 6.44). Segundo, pois é com esses cômodos que conseguiremos mostrar como o Criador, mediante o agir de Seu Santo Espírito, através das Escrituras, transforma pecadores miseráveis em filhos amados.
Assim, sempre que você, querido leitor, fizer uma análise sobre como está seu interior, e sentir falta de algum desses cômodos, ore ao Pai. Peça para que o Santo Espírito lhe transforme e lhe faça cada vez mais parecido com o Eterno.
Em segundo lugar, tal como em uma obra, em nós há muita sujeira, poeira e tralhas – coisas que devem ser descartadas. Cremos que fomos justificados de nossos pecados no sacrifício de Cristo, porém sabemos que, enquanto aqui caminharmos, pecaremos. Assim, é necessário que constantemente tenhamos essa consciência do pecado, para que dele nos arrependamos e venhamos a abandoná-lo.
Essa realidade, de abandonar o pecado, nada mais é que o cumprimento da ordem do Criador – ”sede santos, porque Eu Sou Santo” (1Pe 1.16). Da mesma maneira em que não encontraremos determinados cômodos em nosso lar, precisamos entender que a sujeira lá existente deve ser expulsa de quem somos, e que para isso é necessária uma vida de santificação, conforme demonstram as Escrituras (Jo 17.17; Hb 12.1, 14 ).
Santo Agostinho descreve isso de maneira fantástica, logo no começo de Confissões. Diz ele:
“Estreita é a mansão de minha alma; peço que tu a aumentes para poderes entrar nela. Ela está em ruínas; peço que tu a reformes. Eu sei e confesso que ela contém coisas que ofendem teus olhos. Mas quem irá purificá-la? Ou a quem devo recorrer, senão a ti?”
Por fim, em terceiro lugar, saiba que assim como uma casa, você também deve ter um propósito. Para ilustrar melhor o que quero dizer, precisarei usar o exemplo de meu pai.
Há alguns anos meu pai comprou, no interior do Estado, um terreno onde havia um galpão abandonado. Querendo morar lá, principalmente para fugir da loucura que é a “cidade grande”, ele, em um período de um ano, demoliu o galpão que existia e, por conta própria, edificou sua casa. Para isso, além de utilizar de certos materiais novos, cuidando de toda encanação e parte elétrica, ele aproveitou de algumas madeiras e demais objetos do determinado galpão e lhes deu um uso, um propósito – serviram como paredes, por exemplo.
Nós, como morada do Eterno, não somos diferentes. Precisamos ter um propósito, um sentido, um “para que”. De início, é fácil e certo afirmar que seu propósito, querido leitor, é de viver para glória de Deus (1Co 10.31). Entretanto, solicito licença para pedir o seguinte: sirva para servir. Lembre-se daqueles cômodos que ainda não existem dentro de você, ore ao Criador para que os tais “saiam da planta” e, após serem construídos, sirva aos outros com o que você tem.
Uma casa vazia, que não protege pessoas de tempestades, dos vendavais, dos espantos noturnos não é valorizada, e por muitos é chamada de inútil. Assim somos nós, quando não cumprimos com nosso propósito, estabelecido pelo Criador, e nos acomodamos na inércia da vida.
Minha oração é de que o Pai nos dê a consciência de que estamos constantemente em obras, e que um dia seremos perfeição.
Sob a Graça,
Daniel Rodrigues Kinchescki
Fonte: Ministério Reformai
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