HEBREUS 6 POR RC SPROUL.
O texto que contém a mais solene advertência contra a apostasia é também o mais controvertido com respeito à doutrina da perseverança. É encontrado em Hebreus 6:
Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo,
E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro,
E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.
Essa passagem sugere com muita ênfase que os crentes podem apostatar, e o fazem, total e finalmente. Como devemos entender isso? O sentido completo da passagem é difícil por diversas razões. A primeira é que não sabemos ao certo qual situação de apostasia estava envolvida no texto, uma vez que não estamos certos nem do autor nem dos destinatários de Hebreus. Havia duas situações inflamadas na igreja primitiva que poderiam ter facilmente provocado essa terrível advertência. A primeira situação era o problema dos chamados lapsi. Os lapsi eram aquelas pessoas que, durante a severa perseguição, não mantiveram a fé. Nem todo membro da igreja foi até os leões cantando hinos. Alguns gritaram e renunciaram à sua fé. Alguns até mesmo traíram seus camaradas e colaboraram com os romanos. Quando as perseguições cessaram, alguns desses antigos colaboradores se arrependeram e procuraram readmissão na igreja. O modo pelo qual deveria ser recebidos não foi pequena controvérsia. A outra situação inflamada foi aquela provocada pelos judaizantes. A influência destrutiva desse grupo é tratada em diversas partes do Novo Testamento, mais notavelmente no livro de Gálatas. Os judaizantes queriam professar Cristo e, ao mesmo tempo, impor as cerimônias dos cultos cerimonial. Creio que era com a heresia judaizante que o autor de hebreus estava preocupado. Um segundo problema é identificar a natureza das pessoas que estão sendo advertidas contra apostasia em Hebreus. São verdadeiros crentes ou joio crescendo com trigo? Precisamos lembrar que há três categorias de pessoas com a quais estamos preocupados aqui. Elas são (1) crentes, (2) incrédulos na igreja e (3) incrédulos fora da igreja. O livro de Hebreus traça diversos paralelo com o Antigo Testamento, especialmente com aqueles que foram apóstatas. Quem são eles em Hebreus? Como são descritos? Vamos listar seus atributos: 1. Uma vez iluminados. 2. provaram o dom celestial. 3. Participantes do Espírito Santo. 4. Provaram a boa palavra de Deus. 5. É impossível outra vez renová-los para o arrependimento.
À primeira vista, essa lista parece descrever crentes verdadeiros. Contudo, pode também estar escrevendo membros da igreja que não são crentes, pessoas que fizeram uma falsa profissão de fé. Todos esses atributos podem ser possuídos por não crentes. Os joios que vêm à igreja toda semana ouvem a palavra de Deus ensinada e pregada e, assim, são iluminados. Eles participam de todos meios da graça. Eles se juntam à Ceia do Senhor. Eles participam do Espírito Santo no sentido em que gozam da proximidade de sua especial presença imediata e de seus benefícios. Eles até mesmo tiveram uma espécie de arrependimento, ao menos externamente. Muitos Calvinistas, então, encontram uma solução para essa passagem, relacionado-a a não crentes na igreja, que repudiam Cristo. Não estou inteiramente satisfeito com essa interpretação. Penso que essa passagem pode muito bem estar descrevendo cristãos verdadeiros. A frase mais importante para mim é "outra vez renovar para o arrependimento". Eu sei que existe uma falsa espécie de arrependimento que o autor, em outros textos, chama de arrependimento de Esaú. Mas aqui ele fala de renovação. O novo arrependimento, se ele é renovado, precisa ser como o velho arrependimento. O arrependimento renovado, do qual ele fala, é certamente da espécie genuína. Penso que o autor está argumentando num estilo que chamamos de ad hominem. Um argumento ad hominem é desenvolvido tomando-se a posição de seu oponente e levando-a à sua conclusão lógica. A conclusão lógica é que a heresia judaizante vai destruir qualquer esperança de salvação. A lógica caminha assim. Se uma pessoa abraçou Cristo e confiou em sua propiciação pelo pecado, o que essa pessoa teria se voltasse para a aliança de Moisés? Com efeito, estaria repudiando a obra acabada de Cristo. Essa pessoa seria de novo uma devedora da lei. Se esse fosse o caso, para onde ela se voltaria para salvação? Ela repudiou a cruz; não poderia voltar-se para ela. Essa pessoa não teria esperança de salvação porque não teria nenhum Salvador. Sua teologia não permite uma obra acabada de Cristo. A chave para hebreus 6 é encontrada no versículo 9. "Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira". Aqui, o próprio autor nota que está falando de maneira incomum. Sua conclusão difere daqueles que encontram aqui um texto para apostasia. Ele conclui com uma confiança em coisas melhores que vêm do amado, coisas que acompanham a salvação. Obviamente, a apostasia não acompanha a salvação. O autor não diz que todo crente, na realidade, cai. De fato, ele diz o oposto, que está confiante de que não cairá. No entanto, se ninguém cai, por que incomodar as pessoas com isso? Parece frívolo exortar pessoas a evitarem o impossível. Aqui é onde podemos entender a relação entre perseverança e preservação. Perseverança é tanto uma graça quanto um dever. Devemos lutar com toda a nossa força em nossa caminhada espiritual. Humanamente falando, é possível apostatar. Contudo, enquanto lutamos, devemos olhar para Deus, que está nos preservando. É impossível que ele falhe em nos conservar. Considere a analogia da criança andando com seu pai. É possível que a criança se solte. Se o pai for Deus, não é possível que ela se solte. Mesmo considerando a promessa do pai de não soltá-la, ainda é dever da criança segurar firmemente. Assim, o autor de Hebreus adverte o crente contra apostasia. Lutero chamava isso de "uso evangélico da exortação". Lembra-nos de nosso dever de sermos diligentes em nossa caminhada com Deus.
LÍNGUAS DOS ANJOS? O QUE É? EXISTE MESMO? Muito se discute a respeito de um tal de linguas dos anjos, alguns chegam a afirmar que a lingua dos anjos são as línguas faladas nos círculos pentecostais de hoje "os famosos labaxurias decantarabias" mas será? O texto que me intriga muito é 1 Coríntios 13:1, onde Paulo fala a respeito das línguas dos anjos. Mas afinal, que línguas são essas? Seria esse falar em línguas que vemos muitas pessoas falando nas igrejas e que não entendemos muito bem? (1) O texto em suma é este: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1Coríntios 13:1). A primeira coisa a se compreender sobre esse texto é que a Bíblia em nenhum momento menciona que existam línguas (idiomas) especiais que os anjos falam. Sempre que anjos são mencionados conversando com p...
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